Papa retorna a Roma após viagem a Luxemburgo e Bélgica
O avião papal partiu da Base Aérea Militar Belga de Melsbroek às 13h21, com o pouso no aeroporto romano de Fiumicino às 15 horas locais
Após três dias de sua viagem apostólica à Bélgica, a 46ª Viagem Apostólica de seu pontificado, o Papa Francisco chegou a Roma às 15h00 locais, desse domingo (29), após o voo de aproximadamente duas horas. A aterrissagem ocorreu no Aeroporto de Fiumicino, em Roma.
Partida da Bélgica
As notas de "John Brown's Body", com o icônico refrão "Glory Glory Aleluia", entoadas na pista da Base Aérea de Melsbroek, serviram como trilha sonora e despedida final do Papa da Bélgica, que ocorreu pouco menos de uma hora após a conclusão da Missa celebrada diante de quase 40 mil pessoas no Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas.
Após assinar o Livro de Honra na Sala VIP da base militar — na qual afirmou “estar sempre a serviço da paz na Bélgica, na Europa e no mundo inteiro” — Francisco atravessou a pista onde estava posicionada a Guarda de Honra e, em seguida, embarcou no A321 Neo da Brussels Airlines. O avião, com a comitiva papal e os jornalistas a bordo, decolou às 13h21, com pouco mais de meia hora de atraso em relação ao previsto, em uma rota de cerca de 1.200 km.
Agradecimento pelos gestos de fraternidade
No telegrama enviado ao sobrevoar a Bélgica, o Papa agradeceu novamente à família real e à população "pelos inúmeros gestos de hospitalidade e fraternidade" que lhe "foram dirigidos durante os dias da visita".
'Que os abusadores sejam julgados': papa encerra visita à Bélgica falando sobre pedofilia na Igreja
Encerrando sua viagem à Bélgica, o papa Francisco pronunciou uma forte homilia na santa missa mencionando um assunto tabu na Igreja Católica, as agressões sexuais protagonizadas por líderes religiosos contra menores.
O sumo pontífice fez um apelo para que os bispos não encubram esses crimes.
Diante de 40 mil pessoas e de membros da família real belga no estádio Rei Balduíno, Francisco exigiu que integrantes da Igreja Católica acusados de pedofilia enfrentem a Justiça. "Não há lugar para os abusos, nem para cobrir os abusos", afirmou o papa, arrancando aplausos dos fiéis.
"Pensemos o que ocorre quando os pequenos são escandalizados, feridos e maltratados por aqueles que deveriam cuidar deles", disse. "Com a mente e o coração, volto às histórias de algumas dessas crianças que conheci anteontem", reiterou, em alusão ao encontro com as 17 vítimas de violências sexuais que encontrou em Bruxelas.
O sumo pontífice afirmou ter sentido "o sofrimento" de todas essas pessoas, hoje adultas. Além disso, Francisco também ouviu pedidos de uma maior indenização da Igreja Católica belga, que encobertou durante décadas casos de pedofilia dentro da instituição.
"Não falamos do valor, mas deixamos muito claro sobre o fato de que tudo o que foi feito e obtido até agora é totalmente insuficiente", declarou Annesophie Cardinal, uma das vítimas de agressões sexuais cometidas por membros da Igreja Católica, presente no encontro promovido na embaixada do Vaticano na capital belga.
Jean-Marc Turine, outra vítima que participou da reunião com o papa, expressou sua frustração. Segundo ele, o sumo pontífice "fez rodeios" e não propôs nenhuma ação concreta. "Ele pede perdão, diz que tem vergonha e que se sente triste", afirma. "Mas isso não nos ajuda muito", completa.
"Não encubram os abusos!"
Oficialmente, a visita do papa à Bélgica tinha o objetivo de celebrar o 600º aniversário da Universidade Católica de Louvain, mas a questão da pedofilia na Igreja Católica dominou a viagem do sumo pontífice, cuja primeira etapa foi em Luxemburgo, na quinta-feira (26). O rei Philippe e o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, foram os primeiros a fazer apelos em prol de um maior envolvimento do papa na prevenção desses crimes e na identificação dos culpados.
"Peço a todos: não encubram os abusos! Peço aos bispos: não encubram os abusos! Condenem os abusadores e nos ajudem a curar essa doença do abuso", afirmou Francisco neste domingo, visivelmente emocionado. "O mal não pode ser escondido, o mal tem que ser esclarecido. Que se julguem os abusadores, sejam padres ou bispos", concluiu, sob fortes aplausos.
Durante a missa, o sumo pontífice anunciou ainda que abrirá o processo de beatificação do rei belga Balduíno, falecido em 1993, que se opôs à lei que descriminaliza o aborto no país. A prática é legalizada no país desde 1990. Para Francisco, o monarca foi "um exemplo de homem de fé".
Papa diz que acompanha situação no Líbano com dor e preocupação
O Papa Francisco ao falar com os jornalistas em seu retorno para Roma disse que acompanha com "dor" e "preocupação" a atual situação no Líbano.
O confronto entre Israel e Hezbollah se intensificou em virtude dos últimos acontecimentos, principalmente após a morte de Hassan Nasrallah, líder do grupo xiita.
"Continuo acompanhando com dor e grande preocupação a expansão e intensificação do conflito no Líbano. A guerra está tendo efeitos devastadores sobre a população: muitas pessoas continuam morrendo, dia após dia, no Oriente Médio. Rezemos pelas vítimas, pelas suas famílias e pela paz", declarou o religioso.
O líder da Igreja Católica também voltou a pedir um cessar-fogo em Beirute, na Faixa de Gaza, em Israel e na Palestina, bem como que os reféns feitos pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas sejam libertados e que a ajuda humanitária chegue aos mais necessitados.
Além dos conflitos no Oriente Médio, o Papa voltou a falar sobre os abusos sexuais na Igreja Católica durante o Angelus celebrado em Bruxelas.
"Na Igreja há espaço para todos, todos e todos, mas não há lugar para os abusos e o encobrimento deles. Peço aos bispos: não encubram os abusos. O mal não pode ser escondido, deve ser revelado com coragem", disse Francisco, acrescentando que os abusadores precisam ser "julgados" pelos seus crimes.
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